Por Carlise Lima
Como colocar em palavras as sensações que temos nos dias que antecedem uma prova. Não importa ela qual seja, se 5 km, 10 km, 21 km ou 42 km, para quem vai prestar uma prova considerada importante desafiadora, seja qual for a distância, o “dia D” é sempre recebido com muita ansiedade. E dependendo do grau de envolvimento com o evento ou com alguém que participa, seja pelo vínculo que existe entre ambos ou simplesmente pela admiração pessoal que temos por quem vai realizá-la, a véspera é sempre um dia longo.
Há toda uma função que já tem início no dia antes da prova com a retirada dos kits. Os grupos em aplicativos agitam celulares com mensagens do tipo:
Qual o endereço para retirar o kit? E até que horas pode retirá-lo?
Será que alguém pode retirar o meu?
Qual o percurso da prova? (sempre tem um perdido, eu sou uma… Nunca sei o percurso antecipadamente)
Na medida que os kits vão sendo retirados, começam, os bombardeios de fotos nos mesmos grupos, com as camisetas, número de peito, chip e o tênis ao lado das camisetas. Além das caronas sendo combinadas, pois o esporte é isso, um ajudando o outro mesmo fora das pistas. Nas redes sociais repetem-se as fotos. E curtimos todas! (de novo e com entusiasmo!).
Enfim, tudo pronto!! Não tem como explicar a sensação que é estar organizado para o dia seguinte, basta acordar de um sono tranquilo, tomar um café leve, vestir a roupa e ir para o corredor de largada encontrar os amigos. Não tem como explicar, pois não é assim que ocorre mesmo! (Risos altos aqui).
Já começa que não conseguimos dormir, todo mundo agitado e nos grupos seguem as mensagens, “alguém acordado ainda?” e surgem dezenas de mãozinhas seguidas de “emojis” representando as mais diversas emoções. E ainda bem que existem outros como nós que também perdem o sono e conversam até altas horas, quanto maior a expectativa diante de uma prova, maior é a ansiedade e nervosismo na véspera. Até que aos poucos, a noite avança e vai diminuindo o número de participantes ativos no grupo… até silenciar…
Nos programamos para acordar tal hora, problema é que o sono vai embora antes e faltando muitas vezes mais de duas horas para o “despertar” já não conseguimos mais dormir…
Quando se aproxima o horário mais ou menos que todo mundo já deveria estar acordado, começam nesses mesmos grupos sinais de bom dia, seguidos de inúmeros pontos de exclamação, demonstrando a energia e alegria de todos para aquele dia, com o intuito de acordar os colegas, que porventura tenham perdido o horário, através dos sinais das notificações dos aplicativos.
Mas as vezes não precisa nem participar de fato, e aqui relato duas experiências pessoais que ilustram muito bem a situação nestes casos, e uma não menos importante que a outra. Numa oportunidade, por conta da minha lesão, decidi não participar de uma prova, mas também decidi que acompanharia minhas amigas, para dar o apoio que sempre era feito nos treinos. Era um domingo chuvoso, devia ter acordado às 4h30, porém perdi o sono às 3h. Coisa de louco acordar num domingo a essa hora, em dia chuvoso e frio para sequer poder participar de alguma coisa e ainda perder o sono. Decidi não dormir mais e vim para o computador fazer algo que adoro, que é escrever. Logo começaram várias mensagens com “bom dia!!!” nos grupos. Como uma gaúcha, tradicionalista fiz meu chimarrão e fui com ele para o local da prova para torcer por elas, e lá fiquei até o final. Posso não ter participado de nada, mas a alegria em estar entre os meus amigos, os sorrisos abertos e as risadas sobre os mais diversos assuntos renovam qualquer alma. Sem contar a comemoração juntos por cada conquista!
Outra situação, foi uma prova realizada fora do país. A grandeza da prova e as condições climáticas previstas tornavam tudo mais complexo e preocupante, era muita adrenalina. Tomada de perplexidade dadas as dificuldades apresentadas, mesmo sendo uma estranha aos participantes fui obviamente envolvida. Primeiro em função da admiração por aquelas pessoas e também porque era a primeira vez que me deparava com prova de tamanha proporção. Podíamos acompanhar o trajeto percorrido através da internet. Da mesma forma como no relato anterior, aqui, faltando mais de duas horas para a largada eu já estava conectada e olhando minuto a minuto as informações. E nada mudava. Aquele relógio não andava, e aquele bonequinho parecia estar estático! Não conseguia me concentrar no que eu tinha que fazer. Estava ansiosa, primeiro porque veria gigantes guerreiros num grau de profissionalismo tão grande, verdadeiras máquinas humanas de corrida, que faltavam palavras para descrever o que eu sentia. Segundo porque observava o “pace” (ritmo) incrédula, de queixo caído com tamanho preparo daquelas pessoas. E de olhos arregalados só conseguia verbalizar: “Meu Deus… Meu Deus… do céu…” sim, com respectivas pausas leitor. Até que finalmente é dada a largada, e minuto a minuto por durante algumas horas, eu tive o coração nas mãos.
A corrida trouxe uma emoção, que desde os tempos do inesquecível Ayrton Senna eu não sentia por algum esporte. É …. Só os loucos entenderão…
