É preciso coragem para dar início a certas coisas na vida, mas também é preciso coragem para dar fim. Dependendo da situação, é necessário mais coragem para dar fim do que para dar início.
Para dar início, a gente tem que ter coragem pelo medo do desconhecido, é preciso fazer um movimento para sair do estado de inércia para ir para outro estado, que não sabemos se vai dar certo ou não, se será bom ou ruim. No entanto, apesar dessas angústias, existe um certo distanciamento afetivo com relação aquilo que se deseja, porque filosoficamente falando, não foi criado um vínculo afetivo de fato com a coisa desejada em si, porque ela ainda não existe, o que existe é o vínculo com o desejar determinada coisa. E isso são coisas bem distintas.
Quando se trata da coragem de dar fim a determinada situação, coisa ou relacionamento, enfim, há uma ruptura, e essas ao meu ver, são sempre muito mais dolorosas porque você dará fim a um vínculo com algo que já existe, que já gerou envolvimento entre as partes seja ele qual for, mas existe um elo que deve ser rompido, que deixa marcas e isso sempre dói… Dói tanto para quem dá o ponto final, mesmo sendo esse ponto um sinal de alívio, já que essa sensação é precedida de uma angústia, como para quem sofre essa ruptura involuntária.
Sempre tive medo de pontos finais, e curiosamente fui buscar na internet uma definição e encontrei:
“O ponto final representa a pausa máxima da voz.(…) Emprega-se, principalmente: – Para fechar o período de frases declarativas e imperativas.”;
“O ponto final é um sinal de pontuação usado para indicar o final de um período, marcando uma pausa absoluta.”
E meu temor não era em vão, nas duas definições tenho a sensação de uma morte. Veja: “pausa máxima da voz” ou “final de um período, marcando uma pausa absoluta”, são expressões muito fortes.
Por isso gosto tanto das reticências. Elas transmitem a esperança e os sonhos que meu coração insiste em acreditar existir.

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