Vamos falar de amor?<\/p>\n

Nunca fiz uma pesquisa, mas se fizesse, acredito que o amor ocuparia os primeiros lugares na lista dos temas mais abordados em livros, filmes e can\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

E mais uma vez falaremos de amor? Sim. E mais uma vez n\u00e3o concluiremos. Por isso continuaremos a produzir poemas, declara\u00e7\u00f5es e confiss\u00f5es na tentativa de revelar esse mist\u00e9rio e acalmar os sentidos.<\/p>\n

Afinal, o que \u00e9 o amor? Pe\u00e7amos aux\u00edlio aos poetas. Segundo o compositor Nando Reis: \u201cO amor \u00e9 o calor que aquece a alma\u201d. J\u00e1 Clarice Lispector diz assim: \u201cAmor ser\u00e1 dar de presente ao outro a pr\u00f3pria solid\u00e3o? Pois \u00e9 a \u00faltima coisa que se pode dar de si\u201d.<\/p>\n

Em outra via, a da psican\u00e1lise, Jacques Lacan n\u00e3o se prop\u00f5e a definir o que \u00e9 o amor, mas afirma: \u201cAmar \u00e9 dar o que n\u00e3o se tem\u201c. Enigm\u00e1tico?<\/p>\n

Podemos pensar em duas posi\u00e7\u00f5es no amor, a do amante e a do amado. O amante ama porque algo lhe falta e, mesmo sem saber o que seja, ele procura no ser amado esse algo que o completaria. O amado n\u00e3o sabe o que tem, o que \u00e9 a causa do amor do outro. Se o tem, est\u00e1 oculto tamb\u00e9m para si. Ambos, amante e amado, s\u00e3o seres falantes e faltantes. O amante n\u00e3o sabe o que quer e o amado n\u00e3o sabe o que tem (se \u00e9 que o tem) para dar. Ent\u00e3o, certamente, o que um sup\u00f5e ter para dar n\u00e3o \u00e9 o que falta ao outro.
\nMas, apesar disso, ou talvez, exatamente por isso, seguimos amando.
\nComo disse Carlos Drummond de Andrade: \u201cAmar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa amar a \u00e1gua impl\u00edcita, e o beijo t\u00e1cito, e a sede infinita \u201c.<\/p>\n

Enquanto escrevia esse artigo, vi um filme russo chamado \u201cSem amor\u201d. \u00c9 um filme de 2017 do diretor Andrey Zvyagintsev. Nas primeiras imagens j\u00e1 se apresenta o tom do filme. S\u00e3o cen\u00e1rios g\u00e9lidos, des\u00e9rticos, sem cor, quase sem vida. Assim tamb\u00e9m se mostram quase todos os relacionamentos. Passei o filme em estado de perplexidade, suspensa numa tens\u00e3o que n\u00e3o se mistura com emo\u00e7\u00e3o. Ao buscar o afeto no filme, me deparava com um vazio. Os di\u00e1logos s\u00e3o crus, \u00e0s vezes, cru\u00e9is, mas a emo\u00e7\u00e3o n\u00e3o chega \u00e0 superf\u00edcie ou ao espectador. Nas imagens, di\u00e1logos e sentimentos\u00a0\u00a0 (ou melhor, na falta deles) durante o filme, o que o diretor me transmitiu \u00e9 que sem amor n\u00e3o h\u00e1 vida.<\/p>\n

Nos falta uma defini\u00e7\u00e3o \u00faltima sobre o amor, mas, que bom que isso n\u00e3o nos impede de amar, porque como diz Pablo Neruda: \u201cSe nada nos salva da morte, que pelo menos o amor nos salve da vida\u201d.<\/p>\n

Simone Aziz
\nPsicanalista
\nTel: 2719-7091
\nE-mail:simone.aziz.psicanalise@gmail.com<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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